A importância do investimento em acessibilidade digital em prol da inclusão social
Segundo dados do Censo Demográfico 2010, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 45,6 milhões de brasileiros têm algum tipo de deficiência (visual, auditiva, motora ou cognitiva). Ou seja, 23,9% da população do país apresenta dificuldades para ver imagens, escutar áudios ou usufruir de alguma maneira os conteúdos disponibilizados na internet.
No entanto, é evidente que grandes portais, blogs e sites em geral dão pouca ou nenhuma atenção às necessidades dessa parcela da população. Um exemplo é uma pesquisa realizada pelo Consórcio World Wide Web (W3C Brasil), que revelou que somente 2% das páginas web governamentais são acessíveis, mesmo que o Art.47 de um Decreto de 2004determine que é:
[…] “obrigatória a acessibilidade nos portais e sítios eletrônicos da administração pública na rede mundial de computadores (internet), para o uso das pessoas portadoras de deficiência visual, garantindo-lhes o pleno acesso às informações disponíveis”.
É importante atentar: o Decreto exige acessibilidade apenas para pessoas com deficiência visual (18,8% dos brasileiros), os demais tipos de deficiência sequer são considerados.
Além da tecnologia
Para o Gerente de Produto da ProDeaf, Ricardo Kimura, o Brasil ainda tem muito a evoluir no quesito acessibilidade. Ele ressalta que, mais do exigir que as empresas se adequem à lei pela punição, é preciso promover o pensamento inclusivo e o enaltecimento do bem-estar e autonomia do indivíduo com deficiência.
“Os recursos disponibilizados pelas empresas ainda são muito escassos. O que falta é a conscientização e a busca por soluções acessíveis. O mercado oferece uma longa lista de soluções destinadas a esse fim, grande parte com preços muito atrativos, dado o retorno que as empresas poderiam ter em adotá-las”.
De acordo com o site Acessibilidade Brasil, acessibilidade digital é “não só o direito de acessar a rede de informações, mas também o direito de eliminação de barreiras arquitetônicas, de disponibilidade de comunicação, de acesso físico, de equipamentos e programas adequados, de conteúdo e apresentação da informação em formatos alternativos”.
O conceito está associado ao desenvolvimento tecnológico e, principalmente, à inclusão e ao desenvolvimento da sociedade, contribuindo significativamente para a formação social, cultural e cidadã.
“A acessibilidade deve ser um alicerce, não um acessório ao produto final, que é o site. Ainda assim, existem ferramentas e serviços para acessibilidade cujo o preço não é influenciado pelo momento da implantação, e a implantação é modular, podendo começar de forma faseada. Tudo que as empresas precisam é querer tornar seu conteúdo acessível”, afirma Kimura.
A acessibilidade na prática e suas vantagens
Entre as iniciativas para tornar a web acessível a todos, está a W3C, um consórcio internacional no qual organizações filiadas discutem e planejam ações em favor da acessibilidade.
Em 2004, a W3C divulgou as Diretrizes de Acessibilidade para Conteúdo Web (WCAG) 2.0. O documento é um dos pilares da acessibilidade digital e referência principal para a construção de sites que não criem barreiras para nenhum usuário, seja este pessoa com deficiência, idoso, analfabeto funcional, entre outros.
Os 4 princípios do WCAG 2.0
1 – PERCEPTÍVEL:a informação e os componentes da interface do usuário devem ser apresentados em
diversas formas para que qualquer usuário possa compreender.
2 – OPERÁVEL:todas as funcionalidades devem estar disponíveis no teclado e de forma que facilite a navegação.
3 – COMPREENSÍVEL:tornar o conteúdo legível, compreensível e fazê-lo funcionar de modo previsível.
4 – ROBUSTO:maximizar a compatibilidade entre os atuais e futuros agentes do usuário, incluindo os recursos de tecnologia assistiva.
Kimura explica que o site é como um cartão de visitas digital, uma das primeiras formas pela qual o consumidor tem contato com a identidade da empresa.
“Quem não atende seus visitantes, portanto, só tem a perder. Para empresas cujo foco do site é a venda, o custo se justifica ainda mais facilmente, pois é possível imaginar a quantidade de usuários que deixa de comprar, simplesmente por não ter acesso à informação”, diz.
Foi pensando nesse mercado potencial e na inclusão de pessoas com deficiência que a equipe ProDeaf desenvolveu o ProDeaf Móvel e o WebLibras.
O primeiro é um aplicativo para tablets e celulares que usa um personagem 3D para traduzir voz ou texto para a língua brasileira de sinais (Libras), a linguagem mais utilizada pelos surdos brasileiros por ser de mais fácil compreensão que o português. O segundo funciona de maneira semelhante, porém é voltado para a tradução de sites.
Como explica Kimura, para muitos indivíduos com deficiência auditiva, o português é como uma língua estrangeira, pois possui estrutura diferenciada que exige a oralidade para ser bem compreendido. Além disso, poucos surdos têm acesso a uma educação de qualidade que permita o aprendizado simultâneo das duas linguagens.
“Desejamos que as pessoas se apropriem dessas ferramentas e da tecnologia, e cresçam e se desenvolvam da forma mais autônoma possível. Lutamos não só por um Brasil mais inclusivo, mas por um mundo mais acessível”, ressalta.
Parece que a ideia vem funcionando: o ProDeaf Móvel já foi baixado mais de 550 mil vezes e traduziu mais de 13 milhões de frases. E o WebLibras, que pode ser integrado a qualquer site e possui uma versão gratuita, já está presente em mais de 600 sites de ONGs, instituições de ensino, bancos, operadoras de serviço, etc.
FONTE: http://aliensdesign.com.br/blog/comunicacao-digital/uma-web-para-todos/